Mal entrei no elevador e o comunicado me chamou a atenção.
Era do tamanho de uma folha de papel sulfite e estava ao lado da plaquinha
pedindo para eu sorrir, pois estava sendo filmado, e abaixo de uma outra
dizendo que, devido à Lei Federal 9294/96, era proibido fumar.
Já vi pedidos absurdos e
incompreensíveis naquela parede. O meu preferido era um que alertava para a
proibição de se jogar bala chupada no chão do elevador. Bala normal podia. O
problema era a bala chupada: já era desaforo.
Mesmo sabendo de todo o potencial daquela
parede em ostentar os mais hilários comunicados, me espantei sobremaneira com
aquela folha dizendo que – pasmem, senhoras e senhores – era proibido depositar
lixo no elevador.
Lixo!
Minha reação imediata foi ironizar,
imitando alguns porcos endinheirados, com um: “Como ‘não pode?’ Eu pago uma
fortuna de condomínio e não posso nem jogar lixo no elevador?”
Depois, caiu a ficha: isso lá é coisa
que se peça?
Então, não seria o caso de avisar
também que uma série de outras condutas absurdas são proibidas, como plantar
jequitibás ou espalhar explosivos pelo Mesmo – depois, é claro, de verificar se
ele, o Mesmo, está no andar?
Pois, infelizmente, concluo que, se
pediram, é porque precisa. De certo, nunca ninguém tentou plantar um jequitibá
lá dentro. Se tivesse, mais um sulfite decoraria aquelas paredes.
Coincidência ou não, o novo comunicado
surge na semana em que o sistema de câmeras andou fora do ar. Período ótimo,
aliás, já que não precisávamos mais sorrir, pois não estávamos sendo filmados,
mas que nos expôs a esses pequenos crimes condominiais, e também a uma verdade
irrefutável e desalentadora: assim como as tartaruguinhas do Projeto
Tamar e os presidiários em liberdade condicional, precisamos ser
monitorados. Por motivos distintos, mas todos necessitamos de vigilância
constante. E não contra os terríveis invasores, mas contra nós mesmos.
Contra o seu Alberto, do 23, por
exemplo – principal suspeito de transformar o elevador em lixeira, segundo a
loira do 78. Desconfio que ele até compre sacos diferentes dos que sempre
usa, para que ninguém perceba nada. Até consigo vê-lo de madrugada, pijama e
toquinha, chamando o elevador e colocando dois sacos lá dentro. Para a
transgressão ser completa, penso que ele também acenda um cigarro para
desbancar a Lei Federal 9294/96 e, de quebra, jogue no chão um halls chupado,
antes de mandar o Mesmo para o subsolo. Tudo com uma tremenda cara feia.
O impacto do comunicado ainda é forte.
Trauma recente. Estou tentando me acostumar. Farei o possível para não me
espantar quando, em breve, entrar no pequeno quadrado e trombar com uma
plaquinha de “É proibido urinar e defecar no elevador”.
Pelo andar da carruagem, não deve faltar muito para isso
acontecer. Ate lá, sigo sorrindo, pois as câmeras já voltaram a funcionar e
estou, novamente, sendo filmado. Eu, a loira do 78, o seu Alberto e seus sacos
de lixo.
Um comentário:
Uma amiga me contou ter achado absurdo um outdoor em (se não me engano) Hortolândia, com a mensagem "não matarás". Se há necessidade de deixar avisos para "combinados" tão óbvios quanto o dos 10 mandamentos, sabendo que o Brasil é um país cristão, quem dirá de uma bala chupada, uma infração tão leve assim? O que me parece paradoxal é essa necessidade de sermos monitorados para viver coletivamente. É uma demissão intelectual sem tamanho.
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