terça-feira, 20 de agosto de 2013

O AMANTE UNIVERSITÁRIO


Vi algumas fotos e achei demais.

Depois, li alguns comentários e não acreditei.

Era aquilo mesmo? Estavam criticando a Nanda Costa porque ela não depilou tudo para sair na Playboy?

Espantoso ver que não era um ou outro descendo a lenha. Era muita gente, sobretudo nas redes sociais. Até na página da moça no Facebook.

Essa questão escancara a existência de uma geração de nojentinhos que está surgindo por aí. Uma turma que pede sempre uma versão café-com-leite, light, pasteurizada das coisas; uma versão universitária (mais detalhes aqui), feita para quem não gosta de algo, mas quer fazer parecer que gosta.

Eis que a aversão aos pelos da atriz nos mostra o surgimento do sexo universitário. Que é muito parecido com o de verdade, só que sem esses inconvenientes considerados nojentos pelos enjoadinhos de plantão, como os pelos, a saliva, o suor, e outras secreções. (se você torceu o nariz quando leu ‘secreções’, cuidado)

Esses enjoadinhos do sexo universitário são comparáveis às pessoas que vão pro estádio, mas não gostam do aperto da arquibancada. Vão para ficar em camarote. Senão, nem vão.

Não querem ver erro de passe nem chute torto, os nossos queridos torcedores universitários.

É a turma que vai só pra ver o Neymar; não quer o William José ou o Wesley.

Resumindo: não gostam de futebol. Admiram o show do campeonato europeu transmitido pela TV – aquele ‘espetáculo’ gringo de 0 a 0 – mas dispensam o golaço da Série B.

Não admitem a coisa como ela é, somente do jeito que a mamãe disse que era.

Não querem saber do material bruto, só da coisa editada.

É a turma criada a leite com pera.

Tudo bem, sem generalizar. Acredito que alguém possa simplesmente preferir a ausência de pelos. Digo PREFERIR.

O que não significa engrossar o coro dos que têm nojinho, nem, tampouco, riscar uma mulher com volumosos pelo pubianos de seu caderninho.
Mas, acredite, caro leitor, há quem o faça.

Esses enjoadinhos do sexo universitário garantem: beleza mesmo é a barriga dividida em gomos.

Jamais aquele pneuzinho delicioso forçosamente escondido por imposição das páginas de revista.

Pneuzinhos sufocados justamente porque suas donas acham, erroneamente, que o mundo é feito apenas de enjoadinhos amantes do sexo universitário.

Feito de pessoas que cravam: bonitas mesmo são as pernas das Panicats.

Não reconheceram ainda a maravilha de uma celulite no lugar certo – ou no lugar errado mesmo – e de uma estria que parece ter sido meticulosamente desenhada por algum artista plástico dionisíaco.

Os amantes universitários são os que até recebem sexo oral, mas não fazem. Têm nojo. “Eu? Colocar a boca? Não sei quem já passou por lá”.

Saem da balada e vão para o motel fazer pose pra transar, imitando filme pornô.

Alguns são capazes até de mostrar que decoraram o texto, soltando falas em inglês.

Sabe aquela coisa de colocar uma mão na cintura, a outra na nuca, e olhar pro espelho, recitando uns “Oh, Yes! Suck me, Bitch”. Então...

Isso, claro, quando transam.

Comum julgarem mais proveitoso colocar para descansar seus lindos músculos e optarem por apresentar, no dia seguinte, o recibo do pagamento da pernoite, prova irrefutável de que saíram da balada com “uma máquina daquelas”.

Eles estão em toda parte, caros leitores e leitoras - seja na academia ou nos comentários da página da Nanda Costa.

É preciso ter cuidado para não aceitar o mundinho artificialmente universitário que tentam nos impor.

Um recanto asséptico, com cheiro de álcool gel, Panicats caindo de árvores e amantes universitários dançando ao som de Luan Santana.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Desce?

Mal entrei no elevador e o comunicado me chamou a atenção. Era do tamanho de uma folha de papel sulfite e estava ao lado da plaquinha pedindo para eu sorrir, pois estava sendo filmado, e abaixo de uma outra dizendo que, devido à Lei Federal 9294/96, era proibido fumar.
Já vi pedidos absurdos e incompreensíveis naquela parede. O meu preferido era um que alertava para a proibição de se jogar bala chupada no chão do elevador. Bala normal podia. O problema era a bala chupada: já era desaforo.
Mesmo sabendo de todo o potencial daquela parede em ostentar os mais hilários comunicados, me espantei sobremaneira com aquela folha dizendo que – pasmem, senhoras e senhores – era proibido depositar lixo no elevador.
Lixo!
Minha reação imediata foi ironizar, imitando alguns porcos endinheirados, com um: “Como ‘não pode?’ Eu pago uma fortuna de condomínio e não posso nem jogar lixo no elevador?”
Depois, caiu a ficha: isso lá é coisa que se peça?
Então, não seria o caso de avisar também que uma série de outras condutas absurdas são proibidas, como plantar jequitibás ou espalhar explosivos pelo Mesmo – depois, é claro, de verificar se ele, o Mesmo, está no andar?
Pois, infelizmente, concluo que, se pediram, é porque precisa. De certo, nunca ninguém tentou plantar um jequitibá lá dentro. Se tivesse, mais um sulfite decoraria aquelas paredes.
Coincidência ou não, o novo comunicado surge na semana em que o sistema de câmeras andou fora do ar. Período ótimo, aliás, já que não precisávamos mais sorrir, pois não estávamos sendo filmados, mas que nos expôs a esses pequenos crimes condominiais, e também a uma verdade irrefutável e desalentadora: assim como as tartaruguinhas do Projeto Tamar e os presidiários em liberdade condicional, precisamos ser monitorados. Por motivos distintos, mas todos necessitamos de vigilância constante. E não contra os terríveis invasores, mas contra nós mesmos.
Contra o seu Alberto, do 23, por exemplo – principal suspeito de transformar o elevador em lixeira, segundo a loira do 78.  Desconfio que ele até compre sacos diferentes dos que sempre usa, para que ninguém perceba nada. Até consigo vê-lo de madrugada, pijama e toquinha, chamando o elevador e colocando dois sacos lá dentro. Para a transgressão ser completa, penso que ele também acenda um cigarro para desbancar a Lei Federal 9294/96 e, de quebra, jogue no chão um halls chupado, antes de mandar o Mesmo para o subsolo. Tudo com uma tremenda cara feia.
O impacto do comunicado ainda é forte. Trauma recente. Estou tentando me acostumar. Farei o possível para não me espantar quando, em breve, entrar no pequeno quadrado e trombar com uma plaquinha de “É proibido urinar e defecar no elevador”.
Pelo andar da carruagem, não deve faltar muito para isso acontecer. Ate lá, sigo sorrindo, pois as câmeras já voltaram a funcionar e estou, novamente, sendo filmado. Eu, a loira do 78, o seu Alberto e seus sacos de lixo.