segunda-feira, 12 de abril de 2010

A maníaca e a devassa

Primeiro dia de férias.

Ligo a TV e resolvo zapear canais nunca dantes zapeados. Desenho, futebol, rugbi, uma novela árabe, seriados, Super Nany... são tantas opções...

Paro numa propaganda. É um canal só de propagandas. Pois é, isso existe! Uma mulher com cara, cabelo, e roupa dos anos 80, segura uma mangueira (calma, era só um canal de propagandas) e joga água em tudo quanto é lugar.

Veste um daqueles shorts que começam uns três dedos acima do umbigo. Parece personagem de seriado americano de vinte anos atrás. SOS Malibu, Baywatch, essas coisas que faziam a alegria dos meninos em plena revolução hormonal, no período pré-Malhação.

Em câmera lenta, sorrindo, em close, de tudo quanto é jeito, a mulher dos anos 80 vai lavando tudo o que vê pela frente. Lava um carro, lava uma escadaria, lava paredes, lava chão, lava crianças... Quase uma maníaca da mangueira.

A propaganda não acaba. O locutor repete as informações. Diz que a força do jato permite uma lavagem mais eficiente. A pressão da água é maior.

As imagens também se repetem. A mulher de shortinho, em câmera lenta, lava novamente o carro, o chão, a parede, a escadaria.

Só pra gravar a propaganda, eles devem ter gastado o equivalente a seis meses de banhos meus. E olha que meus banhos demoram. Desde a época em que comecei a assistir SOS Malibu.

Acompanhando os movimentos ensaiadinhos da maníaca, lembrei, quase instantaneamente, do comercial da cerveja Devassa que foi retirado do ar há um mês, acho. Por que mesmo? Dava mal exemplo? E esse comercial da maníaca da mangueira desperdiçando a água do mundo inteiro em uma só propaganda? Não seria também um mal exemplo? Não deveria ser retirado do ar?

O comercial não acaba. Dois, cinco, dez minutos no ar! Água, água e mais água... Desse jeito não vai sobrar nem pra fazer a cerveja da Paris Hilton.

Sei lá o que houve. Primeiro dia de férias, bateu uma enorme consciência ambiental. Resolvo que vou implicar com a vizinha lavando a janela com mangueira, reciclar o lixo do prédio todo, abraçar árvores e denunciar o petshoop da rua do lado pro Ibama.

Desisto de esperar o fim da propaganda. Não vai acabar nunca. Aponto o controle remoto pra TV e, antes de ver sumir a mulher que lava uma vez mais a escadaria em câmera lenta, escuto a voz da Paris Hilton sussurando de mansinho “Divássa”, como na propaganda proibida.

Um comentário:

Victor Farinelli disse...

Excelente!!! Foi a melhor crônica de férias que você escreveu.

Ainda bem que aqui no Chile não existe canal só de propagandas!!!